Minha vontade de conhecer Potosi na Bolívia nasceu na adolescência e nunca me deixou em paz. Começou ali quando li Voltaire (Cândido, ou o Otimismo) e se sacramentou quando li “As veias abertas da América Latina”, do Eduardo Galeano. Sério. Depois de algum tempo com essa obsessão guardada nas entranhas da minha mente, finalmente consegui botar meus pés na terra da prata. Entre os possíveis passeios, contemplação da arquitetura barroca, caminhadas, a polêmica visita da mina e o interessantíssimo Museu Casa da Moeda. Confira aqui minha saga com percalços e vitórias para descobrir Potosi.

Potosi é uma das cidades mais altas do mundo, com 4 mil metros de altitude e fica a cerca de 530 km ao sul de La Paz, a cidade grande mais próxima é Sucre. Foi um importante centro de extração de prata no século XVII chegou a ser considerada a maior cidade da América do Sul, com 160 mil habitantes. Mais do que Paris e Madri na época. Diz a lenda que dali foi tirada tanta prata que daria pra construir uma ponte transatlântica ligando a colônia à metrópole.

Obviamente, a exploração das riquezas trouxe muita miséria e até hoje a região é uma das mais pobres da Bolívia. “Em Potosí a prata levantou templos e palácios, mosteiros e cassinos, foi motivo de tragédia e de festa, derramou sangue e vinho, incendiou a cobiça e gerou desperdício e aventura” (Galeano).

Mas afinal, o que tinha a ver Voltaire com Potosi? Eu explico. O livro conta a história de um ser desafortunado que vem pra América do Sul em busca do Eldorado – as minas que jorravam ouro e prata na Europa no período colonial. Poderia ser Ouro Preto? Sim, mas eu sempre achei que era Potosi e tinha muita vontade de conhecer.

Meu primeiro desafio foi saber como chegar até Potosi, já que eu estava no Salar de Uyuni. Pois bem, ao mesmo tempo que reservei um tour de três dias no deserto, pedi pra agência comprar a passagem Uyuni-Potosí, de ônibus. E deu certo, voltando do tour do salar embarquei pra encarar 4h de viagem. Custo? 100 Bolivianos. Em Potosi me hospedei no Hostel Koala, que considerei uma boa escolha.
No dia seguinte, era hora de uma volta pelo centro histórico. Ao menos a colonização deixou uma herança boa e a cidade foi classificada, em 1987, como patrimônio natural e cultural pela Unesco. Um dos melhores passeios a fazer em Potosi é andar pra ver a arquitetura colonial, mas precisa fôlego porque as ruas são de ladeira e a altitude faz botar os bofes pra fora.

Visitar ou não uma mina em atividade? Veja o porquê da polêmica
Uma vez na cidade, você vai ver que um dos tours possíveis é a visita de uma mina em atividade. Esse passeio é polêmico porque lembra aquela história de transformar a miséria alheia em atrativo turístico. Vale lembrar que nada tem a ver com a visita de minas no Brasil que realmente são turísticas (como a Mina da Passagem em Mariana). Em Potosí a mina é ativa e os mineiros trabalham em condições sub-humanas. A média de vida é 45 anos.

Polêmicas à parte, eu fui. Por 100 bolivianos, um micro vem te pegar no hostel e leva até uma oficina pra trocar de roupa e botar sapatos e roupas impermeáveis. Depois somos gentilmente convidados a comprar “presentes” para os mineiros: explosivos. Essa visita é totalmente contra-indicada para quem sofre de claustrofobia, mesmo com nível leve.
O começo é até legal, visitamos a parte de manufatura e o guia explicou como transformar a matéria-prima em prata em si. Juro que não prestei muita atenção porque eu já estava achando que tinha me metido em uma furada.
Depois seguimos rumo ao alto, em direção ao imponente Cerro Rico, onde as minas se concentram. Entramos nos túneis e a primeira parte não é tão difícil, mas nada confortável. O pó e o cheiro são insuportáveis e isso sem contar que estamos a quase 5 mil metros de altitude. Foram 3 guias pra 4 pessoas, pois eles sabem que muita gente fica pelo caminho.
Logo depois de uns 20 minutos andando na lama e vendo o túnel ficar cada vez mais afunilado comecei a ficar com medo. Quando chegou a hora de se agachar e entrar em um buraco pedi pra parar. Minha lógica era a seguinte: parar antes de ter um surto psicótico. Imagina ter uma crise de pânico e falta de ar lá nas profundezas da mina? Como voltar aquilo tudo? Só existe um caminho possível, que é o mesmo da ida e num túnel bem mais estreito.
Um dos guias (um ex-mineiro) sentou e largou a piada: “turista é maluco de pagar pra vir aqui sofrer”. Concordo. Depois ficamos ali discutindo sobre os problemas sociais e o potencial turístico da região, enquanto esperávamos um dinamarquês e um francês voltarem. Segundo ele, tem muita coisa pra descobrir nos arredores, como sítios arqueológicos e belezas naturais, mas falta investimento pra melhorar a infra-estrutura.

Nosso guia também disse que as minas devem ter só mais uns 5 nos de vida útil e depois não sabe como os trabalhadores ali vão fazer pra sobreviver, já que não tem muito emprego na cidade. Enfim, se eu recomendo a visita? Acho que não. Ir ali no cerro é legal pra ter uma vista da cidade, mas eu jamais tentaria entrar na mina novamente.
O Museu Casa da Moeda é uma visita menos traumática, pode acreditar
A outra parte do dia foi dedicada a algo que se adéqua melhor à minha pessoa. A visita do Museu Casa da Moeda é super interessante!

Construído em pedra, a casa da moeda reúne um ótimo acervo documental do período áureo e muitas obras de arte. Funciona agora como o principal museu da cidade e abriga a maior pinacoteca da Bolívia.


Curiosamente em Potosi tinha muitos bolivianos visitando, o que não acontece em outras áreas como o salar onde só tem gringo.


Museu Casa da Moeda em Potosi : A visita guiada dura cerca de 2h. O preço é 40 bolivianos pra estrangeiros + 20 bolivianos pra tirar fotografia. Há somente duas visitas por dia, às 9:00 e às 14:30, e não abre segunda. Domingo só de manhã, não marque bobeira.
Por fim, Potosi tem vários outros monumentos pra visitar, principalmente igrejas barrocas. Pra não deixar de fazer minhas associações, esse cavaleiro aí embaixo na minha selfie não parece Dom Quixote? Foi ele quem eternizou a expressão “vale um Potosí” que quer dizer “vale uma fortuna”.
E alguém ainda tem dúvidas que a cidade é passagem obrigatória pra quem vai na Bolívia?

Nivea, estava pesquisando na internet para montar um roteiro rico de informações para partir para Bolívia, e achei esse seu rico e sensacional relato sobre Potosi. Também estou lendo atualmente Eduardo Galeano, e fiquei bastante interessado de conhecer Potosí. Parabéns pelo seu trabalho, as fotos estão ótimas, informações completas. Vai me ajudar muito. E sempre que viajar repasse essas informações com essa sua ótica tridimensional
Nivea, estava pesquisando na internet para montar um roteiro rico de informações para partir para Bolívia, e achei esse seu rico e sensacional relato sobre Potosi. Também estou lendo atualmente Eduardo Galeano, e fiquei bastante interessado de conhecer Potosí. Parabéns pelo seu trabalho, as fotos estão ótimas, informações completas. Vai me ajudar muito. E sempre que viajar repasse essas informações com essa sua ótica tridimensional
Que bom que foi útil Eriendson. Espero que aproveite bastante a Bolívia. Esse país é maravilhoso.
Oi, Nivea. Tudo bem? 🙂
Seu post foi selecionado para o #linkodromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Boia – Natalie
Que bom Natalie. Obrigada.