Em setembro do ano passado fiquei quase 20 dias na região de Santarém e Alter do Chão e uma das melhores experiências foi passar um dia na Floresta Nacional do Tapajós, a FLONA. Exemplo de manejo responsável de turismo e uma atividade incrível pra enriquecer a viagem.

Infelizmente grande parte do turismo em Alter do Chão é de balneário, o pessoal chega de outras partes do Brasil pra aproveitar as praias de rio. São maravilhosas? Sim, mas a região é cheia de etnias indígenas, tem uma culinária especial, atividade cultural intensa e é rodeada de florestas. A biodiversidade dali é muito rica. Vale a pena valorizar isso quando você passar por lá e não só ficar prostrado torrando no sol.

Existem duas formas de visitar a FLONA. Uma é ir de barco. Basta ir no cais de Alter do Chão e ver se está saindo algum passeio pra lá. Como os destinos mais procurados são as praias , pode ser que tenha dificuldade de reunir pessoas pra esse passeio na floresta.

Quem tem orçamento mais flexível pode inclusive alugar um barco maior e fazer em dois dias aproveitando tudo que tem direito. Os donos de barco estão acostumados e sabem organizar essas expedições sem problema.
A outra forma (que eu fiz e vou contar aqui) é indo por via terrestre – seja com uma agência ou de carro alugado. Essa é a forma que acho mais interessante pra bate e volta, pois assim dá pra conhecer o que tem no caminho. E olha que caminho interessante.

Acordamos cedo e seguimos 1h30 de carro de Alter do Chão até nossa primeira parada. Chegamos em Belterra, a cidade criada por Henry Ford pra explorar borracha nos anos 30.

A rua principal ainda guarda as residências no estilo americano. Visitamos o Museu da Borracha, uma das casas que compõe o complexo a ‘Vila Americana’.

Seguimos viagem e se você já ouviu falar de turismo de base comunitária e exploração sustentável de recursos da floresta, prepare-se pra se encantar. Existe ali um plano de Manejo Florestal Comunitário gerenciado pelo ICMBio desde 2000 com objetivo de ajudar as comunidades fazerem dinheiro sem destruir a floresta.

Isso inclui a extração de látex pra fazer bolsas, bijuterias, sapatos. Também tem a exploração do óleo de andiroba e copaíba (medicinais) e, claro, a parte do turismo comunitário. Os moradores, a maioria descendentes de indígenas, receberam treinamento pra guiar em trilhas. O trajeto passa por São Domingos, Maguari e termina em Jamaraquá.

Jamaraquá é o ponto de partida da trilha que escolhemos. Existem outras possibilidades de trilha em outras comunidades, de mais difíceis a mais fáceis.
Chegamos ao centro de visitante, a lojinha de artesanatos de látex (preços bem mais em conta que nas lojas de Alter e Santarém) e um restaurante de comida caseira. Na associação conhecemos nossa guia Nilda que nos levaria pela floresta.

Aliás, quando for à Flona peça pra ter uma mulher como guia. A atividade é uma forma delas ganharem dinheiro e conseguir independência, sair de histórias de violência doméstica (empoderamento feminino). A nossa guia mesmo conseguiu sair de um casamento violento, mas ainda não tem condições de ter os filhos com ela. Está trabalhando pra conseguir.

Nilda é profunda conhecedora da floresta, praticamente uma curandeira. Jamais entra na mata sem o óleo de cobra que serve pra picada das peçonhentas. Aliás, ela teve que socorrer uma estrangeira de outro grupo que foi picado por uma aranha.

A caminhada tem 10 km ida e volta. Considero nível médio devido ao calor úmido da floresta, mas não tem muito desnível. Há uma surpresinha no final. Aguarde.
A ida é praticamente um curso sobre o que a floresta pode nos dar em remédios, cosméticos e matéria-prima. Vimos a seringueira, cacau selvagem, a árvore de andiroba, a copaíba. E a incrível Samaúma, as árvores gigantes que rendem belas fotos de recordação.

Muita gente não chega ao final da trilha, principalmente estrangeiros que sentem muito o calor úmido da floresta. Só que o final é a melhor parte pros brasileiros: água pra se jogar. Tem um igarapé maravilhoso no final com água cristalina. Um dos melhores que já tomei banho.

A volta da trilha é mais fácil, pois dá pra cortar caminho. Lá embaixo nos esperava um almoço típico. O feijão cozido com legumes, arroz, salada e Tambaqui assado.
Existe a possibilidade de dormir na comunidade em uma pousada bem simples. É uma ótima opção a se pensar. No meu caso, voltei pra Alter do Chão no mesmo dia. De qualquer forma foi um passeio inesquecível na Floresta dos Tapajós.