Pelo menos pra mim um dos momentos mais difíceis de morar na Europa era o fim de ano. É uma época de confraternização e é quando a gente lembra que tem poucos amigos e família por perto. De qualquer forma, decidimos encarar o gelo e aproveitar a folga do estudo e trabalho pra conhecer o sudoeste francês. O destino de viagem : Bordeaux e Toulouse, com passagem obrigatória por Saint-Emilion, vilarejo pioneiro na produção de vinhos de apelação controlada e classificado como patrimônio pela Unesco.
Chegando em Bordeaux, o frio realmente estava de lascar. Pleno meio-dia e abaixo de zero. Tínhamos reservado um albergue em Bordeaux que se chamava Auberge de la Jeunesse Barbey, mas chegando lá achamos a região meio deserta e o albergue hostil. Entre 10:00 e 15:00 você era obrigado a sair dos quartos pra limpeza, por exemplo. Resolvemos procurar algo mais central e amigável.
Logo nas ruas em volta do centro havia vários hotéis, Bordeaux é uma cidade muito turistica e era inverno, baixa temporada. Isso valeu a pena pra eu ter certeza de que albergue nem sempre é a opção mais econômica, às vezes custam o mesmo preço do hotel, oferecendo muito menos. A cidade tem muitos hotéis bem chiques como o Le Grand Hotel. Impossível não passar perto dele, fica bem no coração da cidade na encruzilhada que chamam de “Triangle d’Or de Bordeaux” , triângulo de Ouro de Bordeaux. O prédio é um monumento histórico de 230 anos e o mais interessante é que sempre foi um hotel.
Aproveitamos o resto do tempo nos últimos dias do Marché de Noel, feira que vende artigos das festas de fim de ano, bem tradicional nas cidades francesas.
Você descobre que Bordeaux é Bordeaux quando entra no supermercado e ve aquelas prateleiras infinitas de vinhos. Vários Sauternes, Saint Emilion e claro Bordeaux assim em pessoa dando mole. Morando quase três anos na França foi ali que eu vi o verdadeiro culto ao vinho. Realmente é impressionante a quantidade, variedade e, melhor, bem mais baratos do que em outras cidades da França. Isso fora as boutiques de vinho ultra-mega-chiques do calçadão, mas essas aí não são pra meros mortais. Nem ousamos entrar, ficamos só na porta igual cachorro vendo frango na padaria.
Não fizemos o tour dos vinhedos, carro chefe do turismo regional. No fim de ano e inverno muitas vinícolas fecham, mas eu não podeia deixar Saint-Emilion passar em branco. De manhã pegamos o trem e descemos em Libourne, a estação mais próxima do povoado (25 minutos). A partir dai são 7 km de caminhada, mas não se preocupe, vai passar rápido, por meio de vinhedos e com vários outros turistas perdidos perguntando pra onde fica.
Mais alguns dias visitando os museus e catedrais de Bordeaux e partimos pra Toulouse de trem (17 euros), 2h de viagem.
Toulouse, a cidade rosa, não é uma cidade tão bonita, mas é sempre bom visitar o sul da França e poder ver que nesse país tem gente feliz e simpática. Acostumada com os carrancudos de Lyon, eu sempre me sentia mais aliviada no sul e em Toulouse não foi diferente. Mais dois dias visitando a cidade e partimos de trem de volta pra Lyon.
A viagem marcou a fim da minha saga de 4 anos pela Europa, pois 3 meses depois eu estava de volta ao Brasil em definitivo.